terça-feira, 27 de janeiro de 2009

O Capitão América!

«“Milhões desejam que Barack Obama seja o novo Capitão América, capaz de acabar com as guerras e as recessões”. A forma como Washington e o mundo festejaram a tomada de posse de Obama fez-me lembrar os filmes de super-heróis, quando o povo olha para cima, à espera da salvação. Milhões e milhões desejam que Barack Obama seja o novo Capitão América, capaz de acabar com as guerras, a depressão económica e o aquecimento global do planeta. Esta expectativa, inocente e infantil, é no entanto profundamente genuína. Nunca, que me lembre, houve tanta gente em frente do Capitólio e da televisão a celebrar a eleição de um presidente americano. O mundo anda infeliz e extremamente preocupado, e a eleição de Obama é, para muitos, o único farol de esperança. Ele é, ao mesmo tempo, um ícone da cultura popular, uma celebridade política e uma lenda viva. Mas será o Capitão América capaz de mudar o mundo? Nós sabemos que ele não tem ‘super-poderes’, mas gostaríamos, mesmo assim, que ele tivesse. Por exemplo, na economia. Há uma falha terrível na alta finança mundial, e a recessão instalou-se por toda a parte, como um vírus que se espalha e adoece os pacientes. Tem o Capitão América uma solução milagrosa? Só o tempo o dirá. Mais despesa do Estado é importante, mas falta remendar o essencial: o grande buraco negro onde a banca internacional se meteu e que a está a sugar. E quanto ao ambiente? Conseguirá o Capitão América parar o degelo nos pólos, as emissões de CO2, a poluição exagerada? Também aqui não há golpes de magia, mas há passos que podem e devem ser dados. E as guerras? Iraque, Afeganistão, Paquistão, Irão, Líbano, Israel, Palestina... Aquela zona está em convulsão há, pelo menos, cem anos. O Capitão América vai tentar, mas é preciso cuidado. No Afeganistão, que Obama elegeu como prioritário, já se afundaram no século passado o império britânico e o soviético... Fiquei, como muitos, contente com a chegada de Obama. Mas temo que o Capitão América não chegue para corrigir tanto mal simultâneo. Outros super-heróis seriam bem-vindos. O Batman, por exemplo, dava jeito para corrigir a recessão económica, pois é um tipo rico. Hillary Clinton talvez possa fazer as vezes da ‘Super-Mulher’, embora não seja tão gira. E, no Médio Oriente, acho que mesmo o ‘Super-Homem’ teria dificuldades para acalmar fúrias tão profundas. Contudo, se o Capitão América tivesse uma ajudinha de outros super-heróis – europeus, asiáticos, judeus ou muçulmanos – talvez as coisas fossem mais fáceis.»
Domingos Amaral in Opinião - Correio da Manhã

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