quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Parados na neve ou no tempo?

«O cenário de neve com que todos fomos brindados nos últimos dias, elevando até cidades costeiras à categoria de belíssimos postais de Inverno, não deixou toda a gente satisfeita. As notícias que nos chegaram de longas horas perdidas em filas de trânsito nas principais estradas, esperando que o gelo derretesse e a neve fosse afastada não faz sentido. E menos sentido faz ainda que, no terreno, ou nos centros de decisão, ninguém tivesse mexido uma palha para fazer chegar às centenas de pessoas que ficaram retidas - algumas em autocarros de transporte público - um alimento ligeiro, uma bebida quente e uma palavra de conforto. A imagem de meia dúzia de pessoas que, a meio da noite, preferiu fazer a pé quatro ou cinco quilómetros entre o local onde tinha sido parada e a cidade de Amarante dá uma ideia de como temos ainda muito caminho a percorrer quando se trata de assegurar a todos assistência, segurança, bem-estar, sobretudo quando as condições são adversas. Basta olharmos para o estrangeiro para imaginarmos o que nos aconteceria se estivéssemos perante um enorme nevão. Sal para limpar as estradas do gelo, limpa-neve em número suficiente para deixar a estrada livre de obstáculos e brigadas de trânsito com viaturas 4x4 para poderem chegar a todo o lado onde alguém esteja aflito é o mínimo que se pode pedir. Tendo esse mínimo, é essencial que haja uma coordenação de serviços séria, para que quem anda no terreno saiba o que anda a fazer, sendo dispensável o tipicamente português voluntarismo, que normalmente esconde uma incapacidade séria e profissional de resposta. Dizer aos automobilistas que devem consultar os sites antes de se fazerem à estrada é anedótico, próprio de parolos novos-ricos. Basta pensar nos agricultores sem site ou nos automobilistas que momentaneamente estejam incapacitados de os consultar. É preciso que os ecrãs das estradas estejam com informação actualizada e que, onde não houver ecrãs, haja painéis móveis com essa informação ou autoridades a fornecê-la pessoalmente. E que se perceba que, no trânsito, o grande aliado das autoridades são as rádios e que é possível pedir aos responsáveis das emissoras que nos momentos críticos aumentem o número de informações que é necessário passar. O que não se pode é deixar entrar viaturas para um "buraco" onde depois ficam longas horas retidas. E menos ainda fazer-nos crer que essa é uma situação normal a que não se pode dar resposta porque as condições são adversas. O pior tempo que temos não tem a ver com neve nem nevoeiro. O pior de tudo é vivermos atrasados no tempo!»
José Leite Pereira in http://jn.sapo.pt

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